sexta-feira, 1 de maio de 2009

Nova colaboradora do CENA UM Roberta Loures fala sobre a peça ENSINA-ME A VIVER.




Harold e Maude – Ensina-me a viver
Por Roberta Loures.

Fácil não, simples sim.

Maude, uma senhora de 80 anos, apaixonada pela vida. Harold, um garoto de 20 anos, apaixonado pela morte. Personagens da vida real, talvez apenas distorcidos pela ‘leve’ diferença de idade. Ela mostra a ele, de forma sábia, a maneira mais simples de levar a vida, de forma leve, despretensiosa, extraindo o melhor de cada situação, mesmo que sejam enterros.
Um cenário limpo, apenas pontuado pela beleza da luz contra os painéis translúcidos, desenhando as cenas, seus ambientes, sua evolução e pelos gestos expressivos, ora exagerados, ora sutis.
Um painel se abre. Uma mesa. Uma corda. E Harold, vestido em seus trajes pretos, simulando mais um suicídio. A única maneira que ele encontra para expressar toda sua angústia reprimida. Gosta de ir a enterros porque se identifica com a aura pesada do ambiente.
Em contrapartida tem-se Maude, sempre com suas roupas coloridas e de bem com a vida. Vai a enterros porque gosta da paz e beleza dos cemitérios.
Mas no encontro dos dois há uma empatia instantânea. O início é um pouco lento, há o medo do desconhecido. Mas existe uma identificação que evolui, uma confiança que cresce, uma relação que começa a nascer. E quando há confiança passa a haver leveza. Leveza demonstrada pelo pânico de Harold, misturado a uma emoção que toma conta da cena, ao entrar em um carro imaginário roubado por Maude e com ela ao volante, dirigindo mal e muito rápido. Há uma transição clara no estado de Harold, um resgate do que existe de mais puro dentro dele. Ele passa a acreditar na possibilidade de se apaixonar pelas coisas simples da vida.
Um painel se abre. Troca de olhares, carícias. Outro painel. O beijo. Mais um painel. A entrega total, a plenitude, o amor, a felicidade.
Os painéis enobrecem as cenas, engrandecem as lembranças de coisas que são simples, conduzindo à reflexão. A beleza da juventude ou de um campo de girassóis. Nada disso pode ser levado ou apagado, está dentro de cada um.
A história retrata bem um quadro que fica cada vez mais distante nos dias atuais: a simplicidade da vida. A dificuldade nos relacionamentos, iniciado dentro de casa, ainda criança. Depois essa dificuldade fica enraizada e passa para a juventude, quando se tenta atrair a atenção de todas as maneiras. Já adultos, com a maturidade, isso passa a ser melhor entendido e aceito. Porém continua um incômodo dentro de cada um. E a forma sábia que esse incômodo pode ser digerido é enxergando além de cada situação, lendo as entre-linhas e dando importância às coisas que realmente importam. As dificuldades irão sempre existir, a diferença vai ser a maneira como ela vai ser encarada. Quanto mais simples, mais fácil e melhor a vida vai se tornar.

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