sexta-feira, 10 de julho de 2009

OFICINAS GRATUITAS NO GALPÃO CINE HORTO.

PARTICIPE DA OFICINA “INTRODUÇÃO AO TEATRO DIALÉTICO”,
COM SÉRGIO DE CARVALHO.

INSCRIÇÕES GRATUITAS!

Envie um e-mail para: coordenacaopedagogica@galpaocinehorto.com.br
com breve currículo e carta de intenção e aguarde a confirmação de sua inscrição.





quinta-feira, 9 de julho de 2009

peça "Vozes de Melânia"

No dia 10 de julho, o Centro Cultural Vila Marçola (Mangabeira da Serra, nº 320, Bairro Serra) apresenta a peça "Vozes de Melânia", uma história chocante que promete comover o público. O espetáculo tem classificação mínima de 12 anos e será apresentado às 19:30 horas, com entrada é gratuita.

A montagem do espetáculo é resultado de um curso de iniciação teatral, baseado no jogo com fragmentos de textos e com músicas variadas, realizado no Centro Cultural Vila Marçola nos meses de abril, maio e junho deste ano.
Dirigido por Ernesto Valença, a peça narra a história na localidade de Melânia, uma cidade em que os diálogos se repetem indefinidamente. É possível voltar a Melânia de tempos em tempos e acompanhar o desenvolvimento do mesmo diálogo iniciado anos antes.

O espectador poderá conhecer situações típicas dessa cidade tão peculiar, como a construção de uma ponte, a venda de palavras no mercado municipal e até mesmo um velório, quando o equilíbrio precário das conversas eternas de Melânia entra momentaneamente em crise. A peça propõe uma reflexão sobre a efemeridade da vida e sobre como passamos nosso tempo no mundo repetindo padrões de comportamento muitas vezes sem perceber. O curso oferecido contou com a participação de iniciantes e pessoas com pouca experiência em teatro que descobriram o universo teatral, desenvolvendo a capacidade de improvisação. Nas oficinas, foram explorados princípios básicos do fazer teatral, tais como interpretação, personagem e jogo. Uma característica do curso foi a experimentação com espaços alternativos como locais de cenas, o que se refletiu na montagem final. O texto final de "Vozes de Melânia" é resultado de processo construído pelos próprios atores com fragmentos de textos de Ítalo Calvino, Bertolt Brecht, Samuel Beckett e Fábio Reynol.

O curso foi ministrado pelo professor Ernesto Valença. Formado em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo (USP), Ernesto é atualmente estudante de mestrado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) onde desenvolve um estudo sobre o som no teatro. Já realizou oficinas teatrais em São Paulo e Brasília e desenvolveu trabalhos para o Ministério da Cultura.
A promoção é da Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Fundação Municipal de Cultura e do Centro Cultural Vila Marçola.

Peça "Vozes de Melânia", uma história chocante que promete comover o público. Classificação mínima de 12 anos e será às 19:30 horas, com entrada gratuita.
Informações: Centro Cultural Vila Marçola (31) 3277-5250
Data: 10/07 - sexta Horário: 19h30

FILME As Três Irmãs.

Da esq. para a dir., as atrizes Simone Ordones, Fernanda Vianna e Inês Peixoto, que interpretam as três irmãs da peça. Abaixo, o diretor Enrique Diaz orienta o elenco. Memórias pessoais para compor os personagens


Três Semanas para Três Irmãs.


A passagem do tempo é o tema principal da literatura do russo Anton Tchekhov.
Não sei que filme é esse", disse em março o diretor Eduardo Coutinho para os jornalistas que o cercaram na primeira exibição do documentário Moscou no festival É Tudo Verdade, em São Paulo. A declaração tem sentido. Durante três semanas ele havia acompanhado o Galpão montando As Três Irmãs, peça do russo Anton Tchekhov. Em seus documentários, Coutinho costuma fazer o papel de entrevistador. Desta vez, ele ficara apenas observando. "O que estou fazendo aqui?", perguntara-se, durante todo o processo.


Para responder a essa questão é preciso retroceder no tempo. Em 2007, Arildo de Barros, um dos atores do Galpão, foi procurado por Raquel Zangrandi, na época produtora da VideoFilmes, que cuida dos filmes de Coutinho. Ela disse a ele que o diretor queria fazer um documentário sobre o processo de criação de um espetáculo. No Galpão as decisões são tomadas coletivamente; por isso, Arildo avisou que não poderia responder pelos outros 13 integrantes. Contudo, não resistiu: "Posso adiantar que iremos participar".
De início, Arildo pensou se tratar de um making of, aquele tipo de filme que prioriza os bastidores da criação de uma obra artística. Coutinho, no entanto, logo esclareceu que o desafio que era bem maior: "Eu quero produzir uma montagem para o meu filme".


O cineasta, que não gosta de trabalhar com roteiros para deixar espaço para o inesperado, propôs aos atores um desafio: teriam três semanas para montar uma peça cujo texto eles só conheceriam no início dos ensaios. Desafio aceito, o Galpão tratou de definir quem seria o diretor convidado para a peça surpresa. Uma lista inicial, com cerca de dez candidatos, foi reduzida para três: Aderbal Freire-Filho, Paulo de Moraes e Enrique Diaz. Acabaram acertando com o último.


Os ensaios começaram em fevereiro de 2008. No primeiro dia, os atores receberam o texto, que estava sem título. Mas os nomes das personagens não sustentaram nenhum mistério. "As Três Irmãs!", alguém exclamou, em momento documentado numa das primeiras cenas do filme. As protagonistas da peça são mulheres que, vivendo numa província russa, sonham em retornar a Moscou. Presas a um passado nostálgico e esperançosas de um futuro impossível, elas são incapazes de viver o presente. "Moscou condensa tudo o que é maravilhoso e é falso. A minha opinião é que só existe o presente", diz Coutinho. Para o grupo, o desafio era ainda maior. "Eu sabia que o Galpão era o inverso de Tchekhov e que a encenação seria muito difícil para eles", afirma o cineasta. A vantagem é que Diaz já tinha familiaridade com o dramaturgo em razão de duas montagens: As Três Irmãs (1999) e Gaivota — Tema para um Conto Curto (2007).


DE MINAS À RÚSSIA


No início, os atores se revezavam entre personagens, e, aos poucos, os papéis foram se definindo. Nesse processo, que incluía ensaios que iam das 14h às 22h, a tarefa de cada ator era buscar uma conexão entre o próprio universo e o do autor russo. Nesse trabalho, usavam fotografias pessoais e exercícios para que pudessem resgatar a própria memória. Simone Ordones, Inês Peixoto e Fernanda Vianna — que interpretam, respectivamente, as irmãs Irina, Olga e Masha — recorreram a diferentes lembranças pessoais para dar vida às personagens. No caso de Inês, a recordação de uma de suas irmãs, que assumia dentro da família responsabilidades como as de Olga, ajudou. A diferença com a personagem que, em seu tom aristocrático, contrastava com o jeito impulsivo de Inês, foi aos poucos sendo atenuada. Alguns recursos foram úteis nessa pesquisa: remetendo a uma figura paterna, a gravata que a atriz usou durante todo o processo, por exemplo, ajudou-a a lembrar de sua responsabilidade perante a família. Visualmente, o filme mostra como referências típicas do interior de Minas Gerais acabam surpreendentemente servindo ao universo tchekhoviano.

A primeira semana foi marcada por tais exercícios, nos quais os atores tinham total liberdade, mas depois disso as cenas começaram a ser "fechadas". Em outras montagens do Galpão, essa pesquisa costuma durar meses. Assim, seus atores ficavam com a impressão de que tudo estava sendo definido de forma "apressada". Diaz diz que foi necessário adaptar o processo de trabalho ao tempo disponível, que era pequeno. Além disso, o que interessava mais a Coutinho não era o resultado, mas sim o processo de criação e o avanço do trabalho.

A principal preocupação de Coutinho era manter o clima agradável. "Tentei interferir o mínimo, e isso me foi muito penoso", afirma. Esse empenho teve êxito, mas, ainda assim, não era possível saber que filme existia ali. Quatro meses depois, diante do material, o diretor se deparou com uma montagem que parecia impossível. Alguns diziam que não funcionaria. Em Belo Horizonte chegavam boatos de que Coutinho estava "desesperado", sem saber "o que fazer com o filme". O também documentarista João Moreira Salles, produtor da VideoFilmes, disse que era um "filme difícil". Sugeriu o título Moscou e uma duração máxima de uma hora e vinte minutos. Diante disso, Coutinho resolveu fazer cortes drásticos, centrando a ação nas três irmãs.


Ainda assim, a avaliação geral é que Moscou é um filme difícil. O ator Antônio Edson, do Galpão, lembra Dirigindo no Escuro, de Woody Allen, que conta a história de um diretor que, acometido por uma cegueira temporária, faz um filme estranho, aos trancos e barrancos — e o resultado é um enorme sucesso na França. "Nossa esperança também são os franceses", brinca Antônio. À semelhança de Dirigindo no Escuro, parece que, antes mesmo da estreia no Brasil, Moscou já encantou os estrangeiros. Juntamente com uma retrospectiva da obra de Coutinho, o filme será exibido no MoMA, o Museu de Arte Moderna, em Nova York. Agora, é esperar a opinião dos brasileiros, que, certamente, não terão como não aclamar.


A CÂMERA E O JORRO DE TEATRO


Moscou, o filme, é mesmo estranho, mas irresistível. Ele se inicia como um making of, mas, ao longo do processo, Coutinho começa a filmar a peça. Somem aos poucos as cenas de bastidor, e restam o texto de As Três Irmãs e o trabalho esplêndido dos integrantes do Galpão. Em alguns momentos, o filme de Coutinho lembra Tio Vania em Nova York, de Louis Malle, em que outra obra-prima de Tchekhov é filmada sem cenários e sem figurinos, como a querer mostrar que os textos do autor russo prescindem de tudo que não sejam palavras e força dramática. Último filme de Malle, Tio Vania em Nova York tem como principal atração a interpretação ao mesmo tempo sensual e melancólica da atriz Julianne Moore. O de Coutinho se nutre de um punhado de cenas de alta voltagem emocional, que provocam comoção na plateia — como aquela em que uma das irmãs, Masha, seduz e é seduzida pelo comandante Verchinin, num uso esplêndido do palco que lembra uma intrincada coreografia.
As peças e contos de Tchekhov são meditações sobre a passagem do tempo inigualadas na história da literatura. Seu relógio se pauta pelas estações, com a natureza espelhando o amadurecimento dos personagens. O tempo transforma tudo — e, como Tchekhov é um pessimista, em geral para pior. Em Moscou, o que acontece é o oposto. O espectador acompanha pouco a pouco a transformação dos atores em personagens absolutamente fascinantes — e também a transmutação do Coutinho documentarista num espectador maravilhado, preocupado em sorver cada gota daquele jorro de teatro com sua câmera. O espectador se maravilha junto com ele. Concebida em apenas três semanas, a peça dentro do filme é um milagre do tempo — desses que só companhias de teatro de excelente nível conseguem realizar.



O Filme com o Grupo Galpão, que encena As Três Irmãs, de Anton Tchekhov, dirigido por Enrique Diaz. Estreia em 7/8.